No mês de agosto, Recife se tornou cenário para a realização da Semana Anti Nuclear, organizada pelo Movimento Ecossocialista de Pernambuco (www.mespe2011.ning.com) com o apoio da Fundação Lauro Campos, Fundação Heinrich Böll, Greenpeace, Centro Cultural Correios, Simples Consultoria e Articulação Anti Nuclear Brasileira.
Na noite da quarta-feira, dia 10, no Centro Cultural Correios foi realizado o lançamento da Revista Ecossocialista de Pernambuco com o tema “Reflexões sobre Energia Nuclear”, reunindo textos de autores do mundo acadêmico, político e de organizações sociais. Em seguida tivemos o debate Pernambuco: Energia Nuclear e Desenvolvimento, tendo com debatedores o geógrafo Claudio Ubiratan Gonçalves (UFPE), o professor e físico Heitor Scalambrini Costa (UFPE/Mespe) e Roberto Malvezzi, conhecido como Gogó, militante social e escritor.
Inicialmente, o deputado federal Carlos Sampaio (PSDB/SP), de passagem pelo Recife, fez questão de se fazer presente para apresentar um breve informe sobre a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) de sua autoria, e para pedir apoio à sua tramitação, que busca inserir na Constituição Federal a proibição de construção de novas usinas nucleares no Brasil.
O primeiro debatedor a falar foi Roberto Malvezzi que iniciou dizendo que a Energia Nuclear é hoje um assunto que interessa a quem está ligado às questões do povo. “No Brasil não temos um histórico de enfrentamento de construções de usinas nucleares, daí a importância da realização desse debate que deve ser conduzido aos mais amplo setores da sociedade”. Relembrou a luta dos trabalhadores rurais na construção da hidroelétrica de Itaparica, no início dos anos oitenta, onde um dos personagens importantes no apoio ao movimento dos trabalhadores foi o bispo Dom José Rodrigues, da diocese de Juazeiro/BA.
Dentre os principais impactos com a construção da usina nuclear em Itacuruba, ele citou a perda da terra como último espaço de resistência, a agressão ao território Pankarará e de povos de culturas tradicionais. Também será dizimada uma reserva biológica identificada por Vasconcelos Sobrinho. Malvezzi lembrou ainda a questão da Fiscalização Preventiva Integrada em Caetité, na produção de urânio e a falsa expectativa gerada na população local em relação à geração de empregos, renda e progresso.
O professor Claudio Ubiratan afirmou que a construção da usina nuclear em Itacuruba faz parte de mais um programa que privilegia o desenvolvimento, fazendo uma reflexão onde comparou os paradigmas capitalista e a preservação ambiental e dos recursos minerais. “Que território é esse que estão levando para Itacuruba?” interrogou ao falar do atraso histórico que fundamenta esse tipo de proposta fazendo inclusive que o governo não venha para o debate franco e aberto com a sociedade civil.
Analisando as recentes manchetes de jornais, o professor Heitor Scalambrini falou das conseqüências do modelo mercadológico que tenta implantar uma matriz energética para o país sintonizada com um modelo de desenvolvimento anti-democrático. Trouxe argumentos favoráveis a uma proposta de desenvolvimento sustentável que segundo ele, não pode ser simplesmente colorida de verde, mas precisa ser aprofundada.
Várias pessoas e representantes de instituições sociais fizeram questão de se posicionar contrárias à instalação da usina nuclear em Itacuruba, dentre elas o pesquisador João Suassuna (Fundaj), o presidente estadual do Psol, Edilson Silva, o representante da Fase, Yuri Moraes, o dirigente do Feru, Mauro Lima, o dirigente do Sindicato dos Urbanitários, Jaime José, dentre outros.
No debate foram trazidas algumas propostas como a integração do Mespe com outros movimentos, assim como com o Comitê Pernambucano Rio+20. O Feru – Fórum de Reforma Urbana se posicionou contrário a construção da usina nuclear e estrategicamente vem realizando atividades de formação nas quais não apenas se posiciona contra, mas procura mostrar “qual energia defendemos”, alertando especialmente para as conseqüências sobre a saúde.
Algumas propostas de mobilização de estudantes da rede de ensino, das associações de moradores, a realização de audiências públicas e a utilização da linguagem simples do povo, como a literatura de cordel, e a maior circulação e acesso às informações sobre o tema serão encaminhadas à coordenação do Mespe que prevê desdobramentos e novas ações visando inclusive à interiorização do debate, especialmente na região de Itacuruba e adjacências.
Programação Cultural da Semana:
A segunda parte da Semana Anti Nuclear ocorreu na sexta-feira dia 12 de agosto, no teatro Hermilo Borba Filho (Teatro Apolo) com a apresentação e debate sobre o espetáculo Poético Musical de Educação Ambiental, com textos de literatura de cordel e músicas de Allan Sales e Trupe. Na ocasião foi lançado o cordel “Não queremos usina nuclear em Pernambuco, no Nordeste e no Brasil”, de autoria de Allan Sales.
Durante a Semana Anti Nuclear ocorreu também a programação organizada pela ONG Baobá, aberta ao público, da Mostra Internacional de Filmes sobre Energia Nuclear, nos dias 11 a 13 de agosto, realizada no Centro Cultural Correios (www.uraniumfilmfestival.org). O público que compareceu às atividades da Semana Anti Nuclear teve acesso gratuito a todas as programações.
Fonte: Movimento Ecossocialista de Pernambuco (24/08/2011)